quinta-feira, 31 de julho de 2008

"Imagem não é Nada, sede é tudo." Assim dizia o slogan do sprite
Amado
Vanessa Da Mata



Composição: Vanessa da Mata


“Como pode ser gostar de alguém

E esse tal alguém não ser seu
Fico desejando nós gastando o mar
Pôr-do-sol, postal, mais ninguém
Peço tanto a Deus
Para esquecer
Mas só de pedir me
Minha linda flor
Meu jasmim será
Meus melhores beijos serão seus
Sinto que você é ligado a mim
Sempre que estou indo, volto atrás
Estou entregue a ponto de estar sempre só
Esperando um sim ou nunca mais
É tanta graça lá fora passa
O tempo sem você
Mas pode sim
Ser sim amado e tudo acontecer
Sinto absoluto o dom de existir,
Não há solidão, nem pena
Nessa doação, milagres do amor
Sinto uma extensão divina
É tanta graça lá fora passa
O tempo sem vocêMas pode sim
Ser sim amado e tudo acontecer
Quero dançar com você
Dançar com você
Quero dançar com você
Dançar com você”

Hoje eu, essa romântica incorrigível, enviei essa música a uma amiga. Ela me respondeu: “Essa música é de novela Rose” e percebi pelo msn que ela mal escutou um pedacinho da música. Tudo bem, se não gostou, tudo bem, cada um com seus gostos. Mas o tom de reprovação que senti nesse comentário dela, me fez pensar em outras coisas.
É impressionante como vivemos em setores, em tribos, tentando transmitir mensagens e criando imagens muitas vezes falsas do que somos, para nos sentir queridos, inseridos, amados, inteligentes e aceitos pelos outros.
Isso se torna muitas vezes, uma condição de sobrevivência, um objetivo de vida, uma obsessão que é capaz de nos alienar a ponto de não nos permitirmos gostar de outras coisas de outras pessoas, de outras músicas, de outros canais de tv, do clichê barato, do romantismo exacerbado, porque a final, o que vão pensar né? Que mico!
Uma vez um professor, de ciência política, falou em aula que nenhum de nós seria um bom advogado se gostasse de pagode ou se não aprendesse a freqüentar um bom teatro. Essas coisas sempre me fazem pensar... mas porque não? Porque eu não poderia ver novelas e fazer excelentes petições ou o que tem a ver a minha sustentação oral no Tribunal com a festa funk que eu fui semana passada?
A triste realidade é que esse senhor “cientista político” tem razão. Tem razão na superficialidade do fato de que nós realmente só seremos vistos pelos outros como bons profissionais da área jurídica se tivermos gostos condizentes com a imagem da cultura e do saber erudito que a nossa profissão transmite, porque houve uma construção cultural limitada em cima disso e que muitos, por status, não pretendem modificar. Mas o que será que é saber erudito hoje? Será que é gostar de uma música de um cara que viveu há séculos, que morava num lugar muito distante de nós em tempo e espaço? Sei não.
Penso que a realidade que eu vivo é muito maior, muito mais dinâmica e evoluída e ela trás uma gama de possibilidades e de complexidades que podem e devem me levar a uma compreensão muito maior da realidade humana, da realidade do meu país terceiromundista do axé e do rock, do favelado e do rico, da pelada no campinho de terra e do tênis nas quadras de saibro. Se dar conta que tudo isso existe a nossa volta e que tudo isso JUNTO também é bom, ou melhor ainda, se permitir gostar de tudo isso é que é a riqueza, ao meu ver, isso sim é que constrói um intelectual de verdade.
Gosto é gosto, ninguém discute. Mas quando esse gosto serve, e é o que ocorre maioria das vezes, para demonstrar uma imagem estereotipada, aí é que mora o problema. Até mesmo porque, vamos combinar, a palavra da hora é globalização, então, pra que se preocupar tanto? A globalização é um das motivações para mudar esse jogo e se ver livre dessas amarras!